A persistente alta do dólar, que se mantém acima de R$ 6 há quase um mês, está diretamente associada ao cenário econômico interno, com menor crescimento e inflação elevada devido ao aumento dos gastos públicos e da dívida, segundo relatório divulgado pelo banco Inter nesta quinta-feira (26).
Ajuste fiscal: a chave para conter o dólar
De acordo com a economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória, a única forma de reverter a desvalorização do real, que caiu 27% em 2024, é por meio de um ajuste fiscal crível. Mesmo com intervenções do Banco Central — que já leiloou US$ 30 bilhões para conter o câmbio —, o impacto sobre a cotação foi limitado.
O Pacote de Ajuste Fiscal, apresentado pelo governo em novembro, teve aprovação no Congresso, mas com modificações que reduziram o impacto esperado de R$ 71,9 bilhões para R$ 69,8 bilhões até 2026. O Inter classificou o pacote como “tímido” e insuficiente para restaurar a confiança do mercado.
Investidores seguem cautelosos
Apesar de reservas cambiais robustas de US$ 363 bilhões, o Brasil registrou um fluxo cambial negativo de US$ 18,427 bilhões em dezembro, causado pela saída de investidores, principalmente na via financeira. O diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos, apesar de atrativo, não foi suficiente para manter o capital no país, devido à falta de confiança na estabilidade econômica.
O Inter alerta que, sem ações efetivas para controlar os gastos públicos, o real continuará sofrendo pressão e desvalorização.
“Nem venda de dólares nem juros elevados foram suficientes para impedir a debandada de investidores”, concluiu o relatório.